Trilhos de Prof (2)

- Então, dormiste na escola?! Pergunta uma das minhas colegas, na Sexta-Feira de manhã.
- Não, não dormi… apenas saí da escola às 8 horas da noite, hora a que acabou a reunião dos Profissionais! Com esta vida desenfreada, até parece que a nossa vida se resume à escola!
- É isso, não tenhas dúvidas, professor que se preze, não pode ter família e muito menos filhos. – Acrescentou a Reza, dirigindo-se apressadamente para a sala de aulas.
Enquanto me dirigia para a sala, em Bloco oposto ao da minha colega, as suas palavras não me deixavam indiferente, e de uma coisa eu tinha a certeza, não me podia acomodar à situação, não me podia deixar apanhar pela enxurrada de depressões. Tenho plena consciência de que sempre trabalhei muito para a escola, para os meus alunos, enquanto Directora de Turma, sem olhar a horas… o meu dia só tem vinte e quatro horas e eu amo muito os Psiquiatras, mas bem longe da minha vista …

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Oito e trinta da manhã, Rita sobe as escadas até ao terceiro piso do Bloco A. Os alunos aguardam-na mais ou menos calmos.
- Então professora, hoje não há portáteis?! – Dizem-lhe em tom cauteloso, pois sabem que o Conselho de Turma reuniu no dia anterior.
- Não, como não cumpriram com as regras estipuladas na última aula, hoje vamos trabalhar com os manuais. – Respondeu, olhando-os calmamente. Observou os olhares significativos que trocaram entre si e continuou:
- Vão abrir os vossos manuais na página «x» e vão responder ao questionário, por escrito, nos vossos cadernos. Já analisámos oralmente estes textos, agora só têm que passar para o código escrito aquilo que fizemos na oralidade. Se tiverem dúvidas, eu estou aqui para vos ajudar…
- Mas professora, eu não tenho manual!!! - disseram alguns em uníssono.
- Não há problema, eu trouxe umas fichas de trabalho para quem não tem manual, ora aqui estão elas... - e distribuiu as fichas por estes alunos.
- Professora, não fecha a porta hoje?
- Não, como vamos todos trabalhar, não vai haver barulho suficiente para incomodar as turmas do lado…
Passado algum tempo, vê os alunos que estavam junto da porta, com os rostos agitados e a bichanar… qual não foi o seu espanto, quando viu um gato a entrar-lhe pela sala dentro… enxotou-o ao som da voz dos alunos «atire-o da varanda abaixo!». Acalmou-os dizendo-lhes que os gatos não precisavam de cartão para entrar na escola e, sorrateiramente, este tinha passado pelo funcionário do Bloco e subido ao terceiro piso. A porta continuou aberta, mas por pouco tempo, porque o gato estava decidido a assistir à sua aula e regressou silenciosamente para debaixo do quadro preto. Os alunos, ávidos de emoções, aproveitaram logo para projectarem as suas esferográficas em direcção aos olhos do silencioso gato, como se de tiro ao alvo se tratasse… Ainda bem que a campainha da escola não estava avariada e o seu som estridente se fez ouvir por toda a escola, anunciando o intervalo!